sábado, 16 de junho de 2012

Discussão e síntese referente à aula de 14/06/12


A Educação Física ainda tem suas raízes de pesquisa científica na temática das Ciências da Natureza, com olhar para a pesquisa tradicional em que o entendimento do corpo é feita numa perspectiva voltada para a objetividade cuja abordagem é biológica e mecânica, realizada com caráter quantitativo, descontextualizada e generalizada. Elaborada de forma fragmentada e manipulada segundo os postulados cartesianos, onde se centra no que há de semelhante entre os homens, o organismo e seu funcionamento, desconsiderando suas diferenças (Silvia et al., 2008), pensamento esse que é observado no filme “Metáfora do Relógio” onde a medicina se preocupa com o funcionamento do organismo enquanto ‘’corpo objeto’’ como cita o texto, de forma dissociada, biológica e mecanicista, o que acaba por ocorrer com a pesquisa quando o contexto e o histórico são desconsiderados. De modo que ao relacionar o corpo humano a um objeto e suas partes, destituí-se o mesmo de cultura, emoção e sentimentos, o que é inviável, uma vez que, não há como dissociar o corpo dos valores e do contexto social.
A expressão corporal, as atividades físicas e até mesmo o esporte estão permeados de significados complexos o que leva profissionais e pesquisadores da área a buscar respostas para seus temas em outros campos do conhecimento, questionando mais fortemente a pesquisa tradicional, e se valendo da pesquisa no olhar das Ciências Humanas e Sociais voltada para o referencial cultural, o que passa a ser fundamental para o reconhecimento do ser humano enquanto objeto e sujeito na construção do conhecimento, em que o contexto social, psicológico e humanista são essenciais, o que vai ao encontro dos ideais de Paulo Freire, que usa dessa temática no entendimento da educação, ressaltando a importância de levar em consideração o histórico local e pessoal.
Para Daolio, citado no texto, a cultura é a principal categoria para o estudo da Educação Física pois enfatiza a inter-relação e a comunicação das dimensões motora, psicológica, social e cultural, contribuindo para a substituição de uma visão fragmentada por uma compreensão sintética de homem, considerando o corpo como a síntese de determinado contexto, de uma identidade social, com registros de um tempo e contexto social específico, onde se é possível e necessário identificar as intenções, emoções e expressões realizadas por diferentes sujeitos.
Na construção do conhecimento na área da Educação física existem dois principais paradigmas de pesquisa: o quantitativo-realista (objetivista), e o qualitativo-idealista (subjetivista), e é dentro desses paradigmas que a pesquisa busca encontrar bases sólidas para o entendimento das questões humanas.
Para pensar na área da Educação Física a partir das Ciências Humanas é preciso estar embasado em teorias, autores e visões específicas. Para Minayo, por exemplo, os  critério para compreender o sujeito social é entender o passado e, portanto a pesquisa baseada nas Ciências Sociais deve ter uma fundamentação histórica, considerar a expressão do próprio sujeito na pesquisa, realizar a pesquisa em construção conjunta com o sujeito, considerar que as Ciências Sociais são intrínseca e extrinsecamente ideológicas, levando em consideração que esse tipo de pesquisa é essencialmente qualitativa o que caracteriza seus resultados como apenas um recorte do que representa o grupo estudado, o que não é um problema, uma vez que não é esperado encontrar relação de causa e efeito, e sim entender as relações, contextos, experiências vividas, pensamentos, ponderações dentro do cenário observado, e não necessariamente transpor os achados para toda uma população como verdades absolutas.
Como discutido em sala a pesquisa qualitativa investiga o que é subjetivo, no entanto é realizada de forma objetiva. Quanto mais próxima ela está de um experimento, menos qualitativa ela se caracteriza, podendo colocar esse tipo de pesquisa em um contínuo em que a pesquisa pode estar mais na extremidade qualitativa ou na extremidade quantitativa.
O mais importante ao se realizar a pesquisa qualitativa é a preocupação com o delineamento ou desenho do estudo e não o método. O desenho é determinado em aspectos como: “no que se baseou”,  “qual o contexto”, “qual a natureza da pergunta” dentre outros, sendo ele formado com a teoria de base, a experiência do pesquisador e sua visão de mundo. Estes elementos levam à pergunta de pesquisa, que surge por meio da observação e imersão, estando mergulhado no ambiente, para que o pesquisador possa refletir e se inserir no contexto que está sendo pesquisado, assim como, refletir sobre as ações observadas.
A pesquisa qualitativa não completa ou integra a pesquisa quantitativa,  o primeiro modelo segue o sentido do pensar e refletir dentro de um contexto, e o segundo tem suas bases focadas no raciocínio lógico. Assim para entender os delineamentos da pesquisa qualitativa é preciso aceitar que muitas vezes o que não consideramos ciência pode servir como base para um determinado grupo ou pessoa, por vezes melhor do que qualquer ciência tradicionalmente aceita e nenhuma se sobressai a outra, mais sim enxerga determinados pontos distintos seguindo uma forma de pensamento especifico.
 Em relação à estrutura, vale ressaltar que a pesquisa qualitativa possui introdução que é caracterizada pela trajetória do pesquisador e uma contextualização; a problematização, que consiste no embasamento teórico; a aplicação do método em campo em que o pesquisador é o instrumento e utilizará estratégias para a coleta de dados; em seguida a descrição, análise ou interpretação dos dados e, por fim as considerações finais que são reflexões sobre os desdobramentos da pesquisa. Uma pesquisa qualitativa não possui conclusão pois uma de suas características é não ser conclusiva, ou seja, ela irá apresentar um aspecto de um contexto visto por um prisma e não é uma verdade absoluta.
Ainda dentro do entendimento das pesquisas científicas alguns autores tem se questionado e criticado a qualidade de estudos e artigos produzidos, considerando que a Educação Física brasileira alcançou um importante desenvolvimento na produção científica, o que também gera um grande volume de informações desqualificadas, é importante analisar e verificar a qualidade do método científico, reprodutibilidade e critérios das pesquisas escolhidas como base.
O texto de Schulz et. al. (2011) apresenta algumas das políticas adotadas em periódicos nacionais para qualificar, classificar e quantificar artigos de revisão, que está dividido como reviões narrativas e as revisões sistemáticas, ele observa que um dos grandes desafios de uma área é desenvolver um corpo de conhecimento sólido que possa fundamentar e nortear a prática.
O texto demonstra que as revisões narrativas apresentam-se em maior número e consiste em uma abordagem mais aberta que não exige um protocolo rígido, e a busca das fontes não é pré-determinada e específica o que a faz ser menos abrangente e de menor qualidade, enquanto a revisão sistemática adota um método padronizado, com maior rigor científico, com procedimentos de busca, seleção e análise bem delineados e claramente definidos, o que confere maior qualidade e validade, e por isso é mais apreciada por editores de periódicos.
Com tudo o que foi dito, fica a expectativa de que os profissionais e pesquisadores da área possam refletir, estudar e entender a pesquisa científica de uma forma ampla, dentro de diferentes paradigmas, sendo capaz de identificar e escolher aquele adequado para o que o seu estudo pede, de modo que tratar com objetividade algo que é subjetivo, ou tratar com subjetividade algo que é objetivo é um erro na busca pela pesquisa de qualidade.

Referências Bibliográficas

SCHÜTZ,G.R. Et al. Política de periódicos nacionais em Educação Física para estudos de revisão/sistemática. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2011, 13(4):313-319. 

SILVIA. Et. al. A pesquisa qualitativa em Educação Física: possibilidades de construção de conhecimento a partir do referencial cultural.. Educação em Revista 2008, n. 48, p. 37-60