Promoção
da Saúde e Educação em Saúde na perspectiva freireana
A
promoção da saúde é uma ideia que requer a mobilização de ações articuladas
para levar a pessoa a exercer suas ações com uma autonomia consciente, em
outras palavras com empowerment. A
essa autonomia inclui-se o aspecto físico-motor, mas, principalmente se dá no âmbito
da razão, da capacidade de fazer escolhas conscientes embasada numa visão
crítica do contexto em que se vive e da concepção do direito à ação em busca de
ideais individuais e coletivos. Por isso a autonomia só se desenvolve de maneira
plena se for alicerçada na verdadeira democracia na qual as pessoas atuam juntamente
com os governantes para direcionar as ações necessárias e garantir que seus
direitos sejam assegurados na prática.
Sabe-se que a promoção da saúde é
uma estratégia que tem como objetivo maior levar as pessoas a terem o máximo de
autonomia possível dentro do seu contexto político, econômico e cultural, mas, para
isso é preciso uma orientação planejada e estruturada, ou seja, é preciso uma educação
em Saúde que tenha uma pedagogia norteadora estruturada em ações por parte dos
educadores que ensine o educando a “saber fazer”, “saber pensar” e “saber ser”.
Ou seja, um método de ensinar estruturado não apenas pelo discurso, mas, pela
ação, como disse Paulo Freire.
Paulo
Freire como Educador e Filósofo pensou um modelo de ensino aprendizagem que
enxergava o educando como uma pessoa capaz de construir o seu conhecimento
sobre as coisas com base na problematização do seu contexto social, cultural e
político, Paulo Freire denominou esse método de Educação Dialógica. Logo, o educando,
segundo Paulo Freire, deve chegar às suas próprias conclusões com base em
reflexões pautadas no diálogo, na divergência de opiniões, na liberdade de
expressar o seu sentimento sobre tudo que está relacionado à sua vida. O educador
seria então, uma ferramenta que iria induzir o educando a seguir esse caminho
com plena liberdade de reflexão, é uma proposta de aquisição de conhecimento
dinâmico, autônomo, desenvolvido no processo de fazer, pensar e no exercício da
expressão de ser em meio ao seu contexto. Com base nesse olhar da pedagogia freireana, a humanização e o acolhimento na relação educador – educando se
torna imprescindível, pois, para educar alguém segundo Paulo Freire é
necessário conhecer o contexto e as experiências que a pessoa acumulou durante
a sua vida para utilizá-los como ferramenta e levar a pessoa a refletir sobre
as coisas que estão relacionadas ao seu contexto social para que ela possa
pensar com base na realidade, agir e perceber as suas potencialidades no
ambiente em que vive. Porém, Paulo Freire reconhece não ser fácil aprender a
ser livre para pensar e tomar decisões com autonomia dizendo que “a libertação
é um parto doloroso”. É difícil para o professor permitir que o aluno seja
autônomo, que não precise necessariamente dele para calcar suas reflexões e
ações, assim como é difícil para o aluno se libertar da ideia de que quem tem
determinado conhecimento tem o direito de pensar por si mesmo e quem não tem aprende
com quem sabe achando-se incapaz de produzir conhecimento junto com o educador.
Paulo
Freire deixa muito claro que Educação deve estar intrínseca à reflexão política
referente ao ambiente que si vive para que não seja nula, incapaz de levar o
indivíduo a ação em si. É preciso
então, encorajar a pessoa para uma tomada de decisão a respeito do que ela é contra ou a favor e de quem ela
é contra ou favor. Paulo Freire diz então que é impossível educar sem despertar
a consciência política das pessoas e que é impossível até mesmo pensar em
educação sem que se esteja atento às relações de poder. Ele ainda ressalta que a
educação não nasce do poder, mas, se chega ao poder pela educação.
Portanto,
promover saúde é uma estratégia que só faz sentido se as pessoas forem educadas para que
tenham autonomia e que essa autonomia as levem à atuação no âmbito político encorajadas
por escolhas feitas com base na reflexão sobre o seu contexto social. O Educador
Paulo Freire no seu pensamento sobre como deve ser a educação descreve
perfeitamente esse cenário cujo objetivo nunca deve ser formar um produto final, ou seja, pessoas que reproduzem informações sem refletir sobre elas porque não sabem articular conhecimentos, mas pessoas em processo contínuo de reflexão sendo capazes de fazer escolhas e realizar ações, em suma, pessoas participativas e conscientes do que é melhor para a sociedade e
para si mesmo.
"Quais os meios pelos
quais o educador ensina seus educandos? E qual é a Pedagogia? Paulo
Freire,explica ".
A Educação Dialógica praticada como uma pedagogia para humanização e com diálogo o educador se aproxima do cotidiano do educando, conhece sua realidade e sua cultura para respeita-las, não invadindo, mas considerando os conteúdos do cotidiano na elaboração e na prática das suas estratégias de ensino-aprendizagem.
Um
elemento que também inspirou essa reflexão em que tentamos minimamente relatar
o nosso entendimento sobre a promoção da saúde e educação em saúde na
perspectiva freireana, além, é claro, das aulas inspiradoras da nossa professora
Marília Velardi, foi a leitura das primeiras páginas do livro “A importância do
ato de ler” escrito por Paulo Freire. Nesse livro ele descreve com minúcia o
seu olhar sobre a relação educador-educando, descrevendo de forma poética a sua
própria infância para mostrar que o caminho que leva a educação dialógica
defendida por ele nasce primeiramente das considerações conscientes sobre o
contexto sociocultural em que o educando se desenvolve. Esta é uma leitura
muito agradável e reflexiva, pois, trata-se de uma visão extremamente
humanizada da relação educando-educador pensada por Paulo Freire.
Referências
MIRANDA,
KCL; BARROSO, MGT. A contribuição de Paulo Freire à prática e educação crítica
em enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem 2004 julho-agosto; 12(4):631-5
GADOTTI,
MOACIR. Perspectivas atuais da educação. São Paulo em perspectiva, 14(2) 2000
FREIRE,
PAULO. A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam. São
Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989
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