domingo, 23 de junho de 2013

A pesquisa qualitativa: o pesquisador como instrumento e as pesquisas na PS

Postagem do grupo 6.


Com o crescimento das pesquisas na área da Atividade Física, tornou-se necessário acrescentar métodos que pudessem permitir um conhecimento com maior profundidade, para além de se quantificar o que se faz,  entender os aspectos  culturais e psico-afetivos do ser humano.

Apesar da dificuldade de se dimensionar esses aspectos acima, foi através das Ciências Sociais e Psicologia que cresceu a abordagem do fenômeno do movimento humano.

Estudar o ser humano é complexo, principalmente sua cultura e vida social, então foi a área de Ciências Sociais, no  século XIX, que surgiu o questionamento de uma melhor forma de melhorar a abordagem esses estudos. Com isso surgiram duas perspectivas teóricas predominantes, são as positivistas e fenomenológicas, sendo que a primeira busca fatos ou causas dos fenômenos sociais e a segunda examinar o mundo como é experienciado pelos grupos ou indivíduos. Então a segunda (fenomenológica) passa a ser a qualitativa, pois necessita de desenvolvimento de métodos que produzem dados descritivos de como os indivíduos enxergam a realidade.

Com isso entendemos então que a metodologia qualitativa permite uma abordagem onde pode-se entender melhor a dinâmica e a complexidade dos fenômenos sociais, no seu contexto natural, sendo uma alternativa para o distanciamento entre o pesquisador, o local e os pesquisados.

A pesquisa qualitativa tem a subjetividade como um parâmetro, fazendo com que o indivíduo se sinta parte do processo, e não apenas um número, podendo então se expressar da melhor forma que ele entende os acontecimento consigo e a sua volta.

Para iniciar uma pesquisa, o pesquisador precisa primeiramente conhecer o local, ter uma análise crítica da situação, quais são as questões existentes, para depois definir qual o melhor método de trabalho. Podemos entender então, que essa deve ser uma abordagem "freireana", onde todos os aspectos já existentes devem ser levados em conta.

Deve-se usar o pensamento sistêmico, pois esse aborda a realidade, sem dividi-la em pedaços, pois só a racionalidade científica não é suficiente para entender o desenvolvimento humano. Como já dito anteriormente, a subjetividade aqui tem papel central, levando em conta a cultura, arte e religiosidade.

Com isso o pesquisador também passa a entender melhor a realidade, do ponto de vista dos pesquisados, enxergando com olhos de quem vivencia o dia a dia, mas sempre lembrando de não perder o sentido inicial da pesquisa, conduzindo sem intervir no resultado, na direção das respostas necessárias para o estudo.

O pesquisador deve ser criativo na busca dos instrumentos que serão utilizados, combinando técnicas e percebendo os limites do que foi escolhido, podendo também usar métodos quantitativos. 

Na área da saúde a visão mais usada é o pensamento cartesiano, mas entendemos que esse não é suficiente para entender os problemas de determinado grupo atendido nas unidades de saúde, pois tem um visão global e generalizada de  como deve ser a prevenção de doenças e os cuidados com a saúde, não levando em conta as características da região e os aspectos individuais do cidadão atendido.

Nesse quadro a pesquisa qualitativa vem ajudar a preencher uma lacuna importante, a distância entre o que as instituições governamentais pensam em como melhorar a saúde do indivíduo, e como o  indivíduo e sua comunidade pensam. Não é possível que se continue com campanhas nacionais, como receitas de bolo, para todas as regiões de um país tão grande  e com características sócio-culturais e econômicas tão diferentes como o Brasil.

Bibliografia:


SILVA, S.A.P.S. A pesquisa qualitativa em Educação Física. Revista Paulista de Educação Física, v. 10 (1), 1996. p.87-98. 

SCHÜTZ,G.R. Et al. Política de periódicos nacionais em Educação Física para estudos de revisão/sistemática Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2011, 13(4):313-319. http://www.scielo.br/pdf/rbcdh/v13n4/11.pdf






sábado, 22 de junho de 2013

A pesquisa qualitativa: o pesquisador como instrumento e as pesquisas na PS

Grupo 5:

Quando falamos em pesquisas qualitativas, logo nos remetemos ao método que será utilizado para realizá-las e esse questionamento deve ser feito previamente, durante e após o processo de coleta de informações, isso justamente pela abrangência e complexidade que este tipo de pesquisa aborda.
As pesquisas qualitativas trabalham inclusive com dados quantitativos, porém, trazem diversos outros elementos que possam enriquecer as discussões e propor soluções mais efetivas para a resolução dos problemas apresentados.
 Muitas vezes quando olhamos algumas situações, logo propomos soluções e abordagens que não funcionam, isso porque não olhamos para a real complexidade da situação, apenas “tiramos uma foto” do que está sendo apresentado.
Esta abordagem está errada, pois ela desconsidera a razão de ser, ou ter se tornado daquela forma, assim sendo, sem saber nada sobre o objeto de pesquisa, não é possível propor soluções eficazes.
René Descartes propõe uma visão tecnicista, onde as pessoas são entendidas como peças que compõe o sistema, assim como um relógio. Porém este modelo de entendimento desconsiderada elementos fundamentais, como a construção do “ser”, desfavorecendo o real entendimento da realidade proposta, e seus elementos que interagem.
Este cenário se reflete em diversos meios, como é o caso das unidades básicas de saúde, onde, usualmente, os funcionários tem que exercer um papel de pesquisadores para propor soluções, alguns destes funcionários adotam a visão preventiva da saúde pública, isso acarreta uma resolução pouco efetiva para os problemas apresentados, por não buscar a fundo e individualizando o tratamento para cada pessoa.
Desta forma devemos pensar em um trabalho prévio, antes de nos preocuparmos com o público, devemos entender que quem trabalha para resolver os problemas nas USS são pessoas que também possuem suas próprias necessidades, sendo assim, a resolução para o público atendido pelas UBS antecede a proposição de medidas para com a sociedade, necessitando a formação e capacitação de quem vai intervir diretamente com a sociedade.
Então podemos entender que um problema, tem motivos diretos e indiretos, assim sendo é necessária a pesquisa qualitativa para entender mais a fundo o cenário que ele está inserido e os motivos de ser.
É claro que para entendermos melhor estas questões temos que observá-las com um olhar diferenciado, buscando sempre entender como o sistema funciona, para fazer isso temos que entender bem as pessoas que fazem parte dele e suas individualidades (ambientes frequentados, histórico de vida, experiências prévias, personalidades, etc) isso acaba compondo um cenário geral de como é o modelo correto de intervenção, tornando possível a melhoria dos sistemas individualmente e de forma integrada.

O pesquisador deve deter as ferramentas para coletar as informações relevantes, propondo assim intervenções, além de ser “sensível” a questões que possam passar despercebidas, esta “sensibilidade” é adquirida com a experiência e olhar crítico provenientes do aprendizado.
Concluindo a discussão, as medidas que são tomadas para a prevenção e promoção em saúde, são proporcionais às ferramentas que o pesquisador detém e sua capacidade de interagir de forma crítica e consciente com elas. Então, tentar utilizar o método, porém não ser capaz de fazer uso de suas potencialidades, pode ser mais ineficaz do que fazer uso de um que está descontextualizado.

Referências:
CANESQUI, Ana Maria. Os estudos de antropologia da saúde/doença no Brasil na década de 1990. Departamento de Medicina Preventiva e Social, Faculdade de Ciências Médicas, Unicamp. Ciência e saúde coletiva, 8 (1): 109-124, 2003.
SCHMIDTH, Maria Luisa SandovaL; NEVES, Tatiana Freitas Stockler. O trabalho do agente comunitário de saúde e a política de atenção básica em São Paulo, Brasil. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2010, vol. 13, n. 2, pp. 225-240.


terça-feira, 11 de junho de 2013

Promoção da Saúde e Educação em Saúde na perspectiva freireana



Promoção da Saúde e Educação em Saúde na perspectiva freireana
A promoção da saúde é uma ideia que requer a mobilização de ações articuladas para levar a pessoa a exercer suas ações com uma autonomia consciente, em outras palavras com empowerment. A essa autonomia inclui-se o aspecto físico-motor, mas, principalmente se dá no âmbito da razão, da capacidade de fazer escolhas conscientes embasada numa visão crítica do contexto em que se vive e da concepção do direito à ação em busca de ideais individuais e coletivos. Por isso a autonomia só se desenvolve de maneira plena se for alicerçada na verdadeira democracia na qual as pessoas atuam juntamente com os governantes para direcionar as ações necessárias e garantir que seus direitos sejam assegurados na prática.
            Sabe-se que a promoção da saúde é uma estratégia que tem como objetivo maior levar as pessoas a terem o máximo de autonomia possível dentro do seu contexto político, econômico e cultural, mas, para isso é preciso uma orientação planejada e estruturada, ou seja, é preciso uma educação em Saúde que tenha uma pedagogia norteadora estruturada em ações por parte dos educadores que ensine o educando a “saber fazer”, “saber pensar” e “saber ser”. Ou seja, um método de ensinar estruturado não apenas pelo discurso, mas, pela ação, como disse Paulo Freire.
Paulo Freire como Educador e Filósofo pensou um modelo de ensino aprendizagem que enxergava o educando como uma pessoa capaz de construir o seu conhecimento sobre as coisas com base na problematização do seu contexto social, cultural e político, Paulo Freire denominou esse método de Educação Dialógica. Logo, o educando, segundo Paulo Freire, deve chegar às suas próprias conclusões com base em reflexões pautadas no diálogo, na divergência de opiniões, na liberdade de expressar o seu sentimento sobre tudo que está relacionado à sua vida. O educador seria então, uma ferramenta que iria induzir o educando a seguir esse caminho com plena liberdade de reflexão, é uma proposta de aquisição de conhecimento dinâmico, autônomo, desenvolvido no processo de fazer, pensar e no exercício da expressão de ser em meio ao seu contexto. Com base nesse olhar da pedagogia freireana, a humanização e o acolhimento na relação educador – educando se torna imprescindível, pois, para educar alguém segundo Paulo Freire é necessário conhecer o contexto e as experiências que a pessoa acumulou durante a sua vida para utilizá-los como ferramenta e levar a pessoa a refletir sobre as coisas que estão relacionadas ao seu contexto social para que ela possa pensar com base na realidade, agir e perceber as suas potencialidades no ambiente em que vive. Porém, Paulo Freire reconhece não ser fácil aprender a ser livre para pensar e tomar decisões com autonomia dizendo que “a libertação é um parto doloroso”. É difícil para o professor permitir que o aluno seja autônomo, que não precise necessariamente dele para calcar suas reflexões e ações, assim como é difícil para o aluno se libertar da ideia de que quem tem determinado conhecimento tem o direito de pensar por si mesmo e quem não tem aprende com quem sabe achando-se incapaz de produzir conhecimento junto com o educador.
Paulo Freire deixa muito claro que Educação deve estar intrínseca à reflexão política referente ao ambiente que si vive para que não seja nula, incapaz de levar o indivíduo a ação em si.   É preciso então, encorajar a pessoa para uma tomada de decisão a respeito do que ela é contra ou a favor e de quem ela é contra ou favor. Paulo Freire diz então que é impossível educar sem despertar a consciência política das pessoas e que é impossível até mesmo pensar em educação sem que se esteja atento às relações de poder. Ele ainda ressalta que a educação não nasce do poder, mas, se chega ao poder pela educação.
Portanto, promover saúde é uma estratégia que só faz sentido se as pessoas forem educadas  para que tenham autonomia e que essa autonomia  as levem à atuação no âmbito político encorajadas por escolhas feitas com base na reflexão sobre o seu contexto social. O Educador Paulo Freire no seu pensamento sobre como deve ser a educação descreve perfeitamente esse  cenário cujo objetivo nunca deve ser  formar um produto final, ou seja, pessoas que reproduzem informações sem refletir sobre elas porque  não sabem articular conhecimentos, mas pessoas em processo contínuo de reflexão sendo capazes de fazer escolhas e realizar ações, em suma, pessoas participativas e conscientes do que é melhor para a sociedade e para si mesmo.

"Quais os meios pelos quais o educador ensina seus educandos?  E qual é a Pedagogia?  Paulo Freire,explica ".



   A Educação Dialógica praticada como uma pedagogia para humanização e com diálogo o educador se aproxima do cotidiano do educando, conhece sua realidade e sua cultura para respeita-las, não invadindo,  mas considerando os conteúdos do cotidiano na elaboração e na prática das suas estratégias de ensino-aprendizagem. 


Um elemento que também inspirou essa reflexão em que tentamos minimamente relatar o nosso entendimento sobre a promoção da saúde e educação em saúde na perspectiva freireana, além, é claro, das aulas inspiradoras da nossa professora Marília Velardi, foi a leitura das primeiras páginas do livro “A importância do ato de ler” escrito por Paulo Freire. Nesse livro ele descreve com minúcia o seu olhar sobre a relação educador-educando, descrevendo de forma poética a sua própria infância para mostrar que o caminho que leva a educação dialógica defendida por ele nasce primeiramente das considerações conscientes sobre o contexto sociocultural em que o educando se desenvolve. Esta é uma leitura muito agradável e reflexiva, pois, trata-se de uma visão extremamente humanizada da relação educando-educador pensada por Paulo Freire.






Referências

MIRANDA, KCL; BARROSO, MGT. A contribuição de Paulo Freire à prática e educação crítica em enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem 2004 julho-agosto; 12(4):631-5

GADOTTI, MOACIR. Perspectivas atuais da educação. São Paulo em perspectiva, 14(2) 2000 

FREIRE, PAULO. A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989



quinta-feira, 6 de junho de 2013

Caderno de campo

Em situações nas quais o conhecimentos que compartilhamos envolve a aprendizagem e a reflexão sobre valores e atitudes é importante que nós estejamos atentamente conscientes do nosso olhar sobre o mundo. É preciso parar e pensar, refletir e fazer escolhas racionais sobre o modo como vemos o mundo em que vivemos. No caso da nossa disciplina a minha sugestão é de que façamos um caderno de campo, no qual as experiências com o cotidiano - assistir a um filme, ler um livro, ir a uma exposição, conversar com as pessoas - nos traga elementos para refletirmos conscientemente sobre os valores que temos, sobre os conceitos que discutimos em aula e sobre qual é o nosso lugar no mundo e especialmente qual lugar queremos ocupar com a nossa profissão.

Um caderno de campo é escrito em primeira pessoa e inicialmente narra a experiência de modo descritivo, atento aos detalhes. No caso de um filme, por exemplo, isso implica em narrar quem eram os atores, diretores, roteiristas; qual o tema, se o roteiro é ou não original, se é uma obra ficcional ou não. Depois, qual é a narrativa e na sequência quais as impressões do autor do caderno, dando atenção especial àquilo que relaciona a experiência cotidiana (assistir ao filme) com aquilo que discutimos em aula.

Esse é um exercício importante, pois ao lidarmos com pessoas e compartilharmos de suas vida é fundamental que nos exercitemos sempre para sermos hoje mais compreensivos, reflexivos e autônomos. do que ontem... mais críticos e conscientes, mais humanos... um exercício pra uma vida inteira, que começa com um primeiro passo. Ou com um primeiro caderno...

Material para o caderno, esse documentário narra as histórias  que deram início à trajetória do educador brasileiro Paulo Freire.



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Saúde e Mobilidade

Ótima dica do doutorando da Faculdade de Saúde Pública da USP Thiago Herick de Sá divulgada pelo Prof. Dr. Douglas Andrade.

Fiquem de Olho

"Grupo de Trabalho sobre Transporte e Saúde, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (FSP-USP). 

Gostaria de pedir indicações de alunos de graduação interessados no tema da mobilidade urbana e sua relação com a saúde da população.

O grupo de trabalho tem por objetivo ampliar a investigação sobre o padrão de deslocamentos da população e sua relação com desfechos de saúde, com especial atenção para a prática de deslocamentos a pé e de bicicleta. Seria muito interessante contar com bolsistas de fora da FSP, especialmente da Geografia, Poli, FAU e EACH (GPP).

Caso conheçam algum aluno com este perfil e interesse, por favor, peçam-no para entrar em contato pelos emails thiagoherickdesa@gmail.com / thiagodesa@usp.br ou no telefone 963441480.
O edital será aberto em breve."

sábado, 20 de abril de 2013

Autonomia e “empowerment” na Promoção da Saúde - aula 18/04/13

No campo da saúde uma série de eventos que acontecem estão relacionados ao comportamento das pessoas e, neste sentido, o pensamento que norteia essa questão facilmente pode ser dirigido a uma lógica simples: se os problemas de saúde estão relacionados ao comportamento das pessoas, então a solução para esses problemas está na mudança de comportamento.
Especialmente após a Segunda revolução epidemiológica muitas medidas começaram a ser tomadas para direcionar a mudança de comportamento das pessoas, muitas vezes a qualquer custo, impondo as ações que deveriam ser adotadas pelo indivíduo para prevenir doenças, sem que houvesse estreita preocupação com as características pessoais e culturais, com os gostos, desejos e vontades e com o sentido do "novo" comportamento para o indivíduo, portanto, sem levar em consideração que as pessoas têm autonomia.
A promoção da saúde, assumindo uma perspectiva de humanização, defende que o serviço de saúde deve ser reorientado para que “seja sensível e respeite as necessidades dos indivíduos”, ou seja, leve as pessoas a pensar sobre o que fazem, sem imposições, mas estimulando a autonomia, pois todos nós temos autonomia, autonomia é uma condição humana!!!!!
Autonomia
Autonomia e “empowerment” estão dentre os conceitos mais utilizados quando se fala em Promoção da Saúde, e estão  intimamente relacionados - um torna-se meio para o outro.
A autonomia é uma condição humana que está relacionada com conhecimento, pensamento crítico, consciência. Com o saber argumentar e sustentar uma convicção, uma opinião e nos traz uma ideia de liberdade, inclusive para lidar com a nossa saúde. Nesse sentido, a autonomia seria “ampliação do controle ou domínio dos indivíduos e comunidades sobre os determinantes de sua saúde” (Teixeira et al., 2008).
A ideia de autonomia (auto = próprio, nomos = norma, regra, lei) conduz o pensamento imediatamente à ideia de liberdade e de capacidade de exercício ativo de si, da livre decisão dos indivíduos sobre suas próprias ações e às possibilidades e capacidades para construírem sua trajetória na vida (Teixeira, et al 2008).

Para alcançar uma autonomia é necessário que haja uma rede de apoio para o desenvolvimento humano que compreenda, além das questões básicas de vida e sobrevivência, o acesso a cultura, a produção humana, o conhecimento. O desenvolvimento humano, por sua vez, não se dá sem saúde e o contrário também é verdadeiro, pois sabemos que as condições sociais e econômicas dos indivíduos influenciam em seu estado de saúde e no que entendem por saúde.
Para entender melhor sobre a autonomia como condição humana, uma dica de leitura: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25 ed. São Paulo. Paz e Terra, 2011.

O “Empowerment”
O termo “empowerment” é analisado por Carvalho (2004) classificando-o em duas vertentes: o psicológico, um lado que aponta mais para a ideia de individualidade, passando uma visão de que cada pessoa é capaz de escolher o seu destino, ao mesmo tempo em que possibilita uma compreensão de culpabilização das vítimas pelos seus problemas de saúde, quando há a "não escolha" de algo que lhe fora informado como método para prevenção de determinada doença (sem levar em consideração o porquê daquela “escolha”). A segunda vertente apontada pelo autor é o “empowerment”  comunitário, que está estritamente relacionado àquilo que é preconizado pelo pensamento de Promoção da Saúde,. Nessa perspectiva  o “empowerment” tem relação direta com uma autonomia comunitária, com capacidade de os sujeitos de uma determinada sociedade reconhecerem seus próprios direitos, conseguirem ter o conhecimento das ações que podem tomar para obterem benefícios direcionados diretamente a eles como um grupo, não apenas como indivíduos separadamente. É o pensar não somente em si, como também no outro e num bem comum a todos.
Em aula levantamos até o questionamento de que autonomia e “empowerment” estão associados também com a consciência de não estar sozinho no mundo, pensar também nas outras pessoas, na comunidade e até mesmo saber pensar inclusive para tomar a decisão de não fazer algo pensando no bem de todos e abrindo mão de uma coisa que faria bem apenas para o próprio indivíduo.
Quando o “empowerment” psicológico é exclusiva meta a ser atingida, torna-se permissível que outras formas de poderes se aproveitem para justificar ações como a privatização da saúde, ou ações individuais nas quais apenas a maioria que tem acesso a produção humana de conhecimento tenha condições para ter autonomia de escolha de hábitos saudáveis que a levem a prevenção de doença. Este tipo de uso deve ser considerado equivocado.
O “empowerment” psicológico pode ser analisado no âmbito da sensação de autoconfiança do sujeito que irá levá-lo a posterior atividade em grupo, mas não se deve tratar o conceito focando apenas no individual. O sentido coletivo deve também fazer parte do conceito e, por isso, a definição de “empowerment” comunitário torna-se mais adequada na utilização para Promoção da Saúde, por ter relação direta com a autonomia coletiva, na qual o poder é distribuído de forma igualitária na sociedade, caracterizando os âmbitos subjetivos, sociais e pessoais ao mesmo tempo em articulação com os determinantes sociais e ambientais (Carvalho, 2004).
É importante ressaltar também que quando falamos em autonomia e “empowerment”, ambos estão interligados e dependentes de fatores como a liberdade de se expressar e indagar contra ou a favor de algo, o conhecimento para argumentar sobre circunstâncias, e também da educação fornecida pela vida ou que também pode ser classificada como a educação moral, na qual os valores de uma sociedade são intrínsecos no conceito deste termo.
Percebemos diante de tudo isso que para ser autônomo consigo e com a comunidade é necessário uma educação para a autonomia. Nesse sentido há os Grupos de Promoção da Saúde (GPS) que são “uma integração coletiva e interdisciplinar de saúde, constituído por um processo grupal dos seus participantes até o limite ético de eliminação das diferenças desnecessárias e evitáveis entre grupos humanos” (Santos et al., 2006).
Considerações finais
Na nossa sociedade nós ainda não temos a construção da autonomia consolidada como meta. A educação em valores, a educação voltada para a vida, não é tarefa consciente da escola, e, aos poucos, essa ausência nos leva para o contexto dos atuais problemas de padrões de comportamentos.
Em sala foi discutido a questão de que é difícil ensinar uma criança a cuidar de si e da sua saúde quando seus pais não têm meios para educarem integralmente e criticamente os seus filhos.
Em sala apontou-se que uma das possíveis soluções dos problemas comportamentais seria as escolas educarem as crianças desde cedo para saberem como escolher a melhor maneira de agir por meio do desenvolvimento da consciência crítica, o que deve ser conquistado  com acompanhamento e apoio. É necessário também ações que levem em consideração toda a sociedade e seus valores para que todos possam exercer sua autonomia e “empowerment” pensando no bem comum.
No entanto autonomia e empowerment não são uma questão de tudo ou nada, nem são metas atingidas em tempos curtos. Tomando uma situação citada em aula sobre a pressão que os adolescentes sofrem de um lado para o início da vida sexual e do outro pela responsabilidade pelo uso de medidas  de prevenção de DSTs e de gravidez indesejada será fácil decidir não transar com um parceiro desejado caso ele não queira transar sem camisinha? Como dizer isso ao seu parceiro? Como agir em caso de discordância? Mais do que saber o que é certo é preciso ter maturidade suficiente, autoestima elevada e autoconceito positivo para sustentar sua opinião e seus valores diante de uma situação que envolve emoções, paixões e outras sensações do momento. É... nada simples! O discutido em sala foi que as chances de o adolescente ceder seriam grandes, e nesse sentido entramos em uma questão de que ter autonomia é um processo adquirido ao longo da vida e que, em certas fases da vida ainda estamos construindo nossa autonomia e também por vezes ao longo de toda nossa vida teremos momento em que poderemos ser mais autônomos e noutros não.

“Por outro lado ninguém amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si é vir a ser.” Paulo Freire

Em suma, os conceitos de autonomia e “empowerment” nos ajudam a entender o sentido das estratégias de Promoção da Saúde, como se estes conceitos fossem mediar nossa visão para a compreensão melhor do que vem a ser promoção de saúde, para nós  futuros profissionais da atividade física, que vamos lidar com pessoas, com o cuidado com o outro, pela promoção da saúde por meio da atividade física. Por isso, entender esses conceito torna-se fundamental para nossa prática profissional, nos norteando em como desenvolver a autonomia em nossos alunos, de maneira que eles saibam o que fazer, como fazer, porque fazer e possa fazer a melhor escolha do que mais faz sentido em sua vida e o deixa mais feliz.
Para visualizarmos a complexidade do empowerment coletivo, uma dica é o filme Milk, dirigido por Gus Van Sant. Milk é um filme estadunidense de 2008 baseado na vida do político e ativista gay Harvey Milk, que foi o primeiro homossexual declarado a ser eleito para um cargo público na Califórnia, como membro da Câmara de Supervisores de São Francisco.

Prá finalizar, a música Autonomia (e Cartola) com Sacudindo o Choro e Fernanda Brito 
E se pudéssemos exercer nossa autonomia? O que você acha?
“Ai! se eu tivesse autonomia
Se eu pudesse gritaria
Não vou, não quero...”

Referências
CARVALHO,S.R. Os múltiplos sentidos da categoria "empowerment" no projeto de Promoção à Saúde Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(4):1088-1095, jul-ago, 2004.
FLEURY-TEIXEIRA,P. ET AL. Autonomia como categoria central no conceito de promoção de saúde. Ciênc. saúde coletiva vol.13 suppl.2 Rio de Janeiro, Dec. 2008. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232008000900016&script=sci_arttext
SANTOS, L.M; DA ROS, M.A.; CREPALDI, M.A.; RAMOS,L.R. Grupos de promoção à saúde no desenvolvimento da autonomia, condições de vida e saúde. Rev Saúde Pública 2006;40(2):346-52

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Autonomia, poder de escolha será que ela tem?

Esse vídeo expressa a discussão feita em sala sobre autonomia.
Nessa esquete, a pessoa teria a oportunidade de ESCOLHER o que quer comer e COMO quer comer.
Partindo do princípio que esta rede de restaurantes é bem conhecida justamente por isso, ou seja, o indivíduo paga uma valor para escolher O QUE quer e COMO quer. Mas, observem o vídeo e comentem se ela teve realmente autonomia.
Analisem todos os detalhes, as expressões faciais do atendente e da cliente, o tom de voz de ambos, as tensões musculares e corporais, o cenário ...
Assistam até o fim pois existe uma perspectiva de uma terceira pessoa que de alguma maneira também se envolve com o ocorrido e qual seria sua autonomia?



Abs
Wesley