Ao
longo dos anos, na civilização ocidental, foi desenvolvida uma forma de
educação que se tornou predominante no mundo moderno, conhecida como modelo
tradicional.
O
modelo tradicional de educação é caracterizado pela concepção da educação
bancária, na qual há uma grande valorização do conhecimento científico. Nesta
concepção o conteúdo deve ser absorvido sem modificações e deve ser reproduzido
fielmente. O educador, nesse contexto, é soberano e dono do saber, devendo “encher”
os alunos de informações, criando o conceito de cabeça bem cheia. Já os
educandos caracterizam-se por serem passivos, que apenas toma notas e memoriza
as informações. Nesse modelo a educação é verticalizada, pois o educador é
considerado superior, que ensina a alguém sem nenhum conhecimento.
“(...) a educação se
torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador
o depositante. (...) a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de
receberem os depósitos, guarda-los e arquiva-los”.
Paulo Freire
Porém,
esse modelo de educação vem sendo criticado. Muito disso por causa de sua característica
opressora, na qual não estímulos para qualquer tipo de criação ou interpretação
das informações. Os oposicionistas defendem que o educando somente assimila bem
aquilo que ele transforma, sendo ela também transformada nesse processo.
O
modelo dialógico (tem esse nome justamente por sua principal característica ser
o dialogo) usa a concepção de educação problematizadora, na qual a situação necessita
desafiar o indivíduo, que ele aceite este desafio e que este esteja ao seu alcance.
O educador, nesse modelo, ao mesmo tempo em que educa, também é educado,
criando condições para o desenvolvimento do conhecimento. O educando, por sua
vez, é sujeito da sua própria educação, sendo portador de algum saber, que
aprendem através de reflexão. Nesse modelo a educação se dá de forma mais
horizontal, pois atuam como iguais, mesmo em posições diferentes.
“A educação, portanto,
implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser
sujeito de sua própria educação. Não pode ser o objeto dela. Por isso, ninguém educa
ninguém.”
Paulo Freire
Segue
abaixo um quadro, inclusive mostrado em aula, que sintetiza bem a diferença
entre os dois modelos de educação:
(Referência para a figura: FIGUEIREDO, RODRIGUES-NETO, LEITE, 2010)
Historicamente, sempre existiu uma tendência em basear as ações para ampliar o conhecimento de doenças e seus agravos à saúde, distribuindo recomendações para a população sobre comportamentos certos ou errados, a fim de prevenir uma doença. Esse tipo de educação é característico do modelo tradicional, que pode ser aplicado a uma grande população com necessidade de sensibilização.
Porém,
quando relacionado com a pratica de atividades físicas, que é associado a um
comportamento complexo, influenciada por fatores culturais, ambientais, sociais
e pelo histórico de vida, o modelo tradicional não é tão eficaz. O indivíduo,
neste caso, necessita construir um sentido e significado individual para a
pratica, para que esta seja duradoura. Nesse sentido, os princípios do modelo dialógico
se enquadram melhor.
Nesse
sentido, o SUS e a estratégia de saúde da família têm princípios que se
aproximam do usuário, como, por exemplo, a regionalização e a centralidade na família,
princípios estes que se moldam nas características do modelo dialógico, através
da relação profissional e usuário, levando em consideração outros aspectos além
do diagnóstico, que caracteriza um processo de humanização.
A
humanização para Freire se enquadra como a luta contra a opressão para pensar
sobre si, aos seus semelhantes e ao mundo ao redor, e é justamente o dialogo
que possibilitará este processo. Ao contrario, o ato de desumanizar se
caracteriza por tornar o humano próximo aos animais, que apenas vivem pelo
contato. A desumanização esta relacionada com o modelo tradicional, já que não
há relação entre educador e educando.
Porem,
o modelo de educação tradicional ainda está bastante fixado nas praticas
educativas em saúde. A aplicação dos princípios do modelo dialógico parece ser
um grande desafio, já que, aparentemente, muitos profissionais não estão
preparados para aplicar estes conceitos, uma vez que sua formação foi baseada
no modelo tradicional.
MORETTI-PIRES,R.O.O pensamento crítico social de Paulo Freire sobre humanização e o contexto da formação do enfermeiro, do médico e do odontólogo. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, 2008 (Tese de Doutorado).(ler. p.27-50).
FIGUEIREDO MFS, RODRIGUES-NETO JF, LEITE MTS.Modelos aplicados às atividades de educação em saúde. Revista Brasileira da Enfermgem, Brasília jan-fev; 63(1): 117-21. disponível em http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/2670/267019595020.pdf
Abaixo, a musica Another Brick in the Wall do Pink Floyd, composta por Roger Waters, em 1979, que é uma critica ao sistema de educação baseada no modelo tradicional.
Quando ingressei na EACH sempre ouvi falar que a convivência entre aluno e professor era diferente, em um primeiro momento, com as aulas de RP achei realmente que o método empregado tinha uma forma de interação bem dinâmica, onde o professor fornece as ferramentas e deixa o aluno pensar, desenvolver e executar um projeto. Mas vejo que essa é uma das poucas matérias que nos fornece esse tipo diferenciado de aprendizado, possivelmente devido a sua estrutura com cerca de 5 alunos para cada professor que facilita o método, mas sinto falta desse tipo de interação em outros anos de nossa graduação
ResponderExcluirpois é Willian... quem acredita no ensino dialógico também se decepciona. No final das contas talvez seja por meio da nossa crítica que as coisas poderão tomar um rumo distinto. Presos ao currículo tradicional e ao modelo tradicional de organização de disciplinas é quase impossível não sucumbir. 60, 70 alunos em sala, aliado à obrigatoriedade de cumprimento de um programa estabelecido pelo menos um ano antes são apenas duas mostras de como é difícil fazer a coisa acontecer de outra maneira. No entanto, refletir sobre isso já é um passo importante... quem sabe um dia?
ResponderExcluirAo ler um texto de antropologia "ÍNDICES DE QUALIDADE DE VIDA NO BRASIL: INSTRUMENTO PARA ANáLISE CRíTICA DOS INDICADORES E DAS POLíTICAS PúBLICAS", o autor cita que um dos problemas para a piora da qualidade da educação ocorreu devido a grande demanda ingressante na educação básica, formando assim analfabetos funcionais, a desvalorização do professor e a falta de investimentos na área causaram tal situação, será que não estamos caminhando no mesmo caminho ao colocar até 100 pessoas em uma sala de aula criando profissionais funcionais que não discutem e solucionam problemas??
ResponderExcluirAcho que se a primeira lógica parece razoável, a segunda também é! A grande pergunta que fica é por quais motivos precisamos inchar as salas de aula? É fato que toda criança tem direito à educação, no entanto, estamos pensando em Educação quando aceitamos passivamente que as salas de aula fiquem superlotadas e que a escola continue sendo a mesma do século retrasado? Há algumas semana o Gustavo Iosche escreveu para a Veja um texto chamado "O Sistema não é feito para dar certo"... vale a leitura, porque amplia o quadro de referenciais para a nossa reflexão. Adorei os comentários do Willian...
ResponderExcluirhttp://veja.abril.com.br/noticia/educacao/nossa-escola-nao-e-feita-para-dar-certo
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