sábado, 26 de maio de 2012

A pesquisa qualitativa na Promoção em Saúde - aula 24/05/12


As discussões sobre a Promoção em Saúde pautam temas como a necessidade de fortalecimento da autonomia dos sujeitos, a ideia do empowerment – que consiste em que o indivíduo perceba suas necessidades e, a partir delas, modifique o ambiente de modo a criar espaços para o exercício de sua autonomia -, bem como apontam para uma educação de caráter dialógico, visando à conscientização dos sujeitos.
Considerando o exposto, é de se esperar que as pesquisas quantitativas realizadas no campo da Promoção em Saúde não deem conta de expressar em números todos os dados que emanam desses processos, uma vez que muitos deles não são passíveis de mensuração e quantificação. Não podemos, por exemplo, dizer que a autonomia de alguém aumentou 50% após uma intervenção, ou que 50% de um grupo de indivíduos passaram a realizar suas ações de forma “mais consciente”.
Nesse contexto é que se faz necessária a pesquisa qualitativa, a qual vai olhar para os fatores/questões que interferem na subjetividade dos sujeitos e que a pesquisa quantitativa não é capaz de apreender.
Ao contrário da pesquisa básica, a pesquisa qualitativa não analisa questões pontuais (olho do falcão), mas adota uma postura que considera o contexto como mais importante (olhar do Romeu), tornando-se o pesquisador, inclusive, parte dele. Tanto assim o é, que o desenho que orienta uma pesquisa qualitativa difere e muito dos padrões de referência que organizam as pesquisas tradicionais (básica e quantitativa).
Na pesquisa qualitativa, a questão que norteará o trabalho surge do contexto, ou seja, das relações entre os indivíduos e das práticas que se observam em determinado ambiente, enquanto que, no modelo tradicional, a pergunta já vem com o pesquisador. Em relação ao método, este é escolhido após o surgimento da questão norteadora e deve ser capaz de respondê-la, ainda que para isso o pesquisador precise aprender novos métodos, caso aqueles de seu domínio não sejam adequados para aquela situação.
A validade do método na pesquisa qualitativa não é algo que se considere imprescindível, já que não se procura de fato a reprodução dos resultados, posto que um contexto jamais será igual a outro. “Os pesquisadores qualitativos estudam pessoas em ambientes naturais e tentam entender ou interpretar os significados que as pessoas atribuem às suas experiências” (Denzin, 2000 apud Driessnack, 2007).

Humanização das relações pesquisa x participantes

          Pressupostos freireanos estabelecem uma relação dialógica e horizontalizada entre pesquisa e participantes, possibilitando que a pesquisa possa identificar necessidades dos participantes e contribuir para a reflexão e construção crítica dos mesmos. Sendo assim, percebe-se uma humanização na pesquisa qualitativa, na qual visa o acolhimento, diálogo, visão holística do ser humano, boa assistência e relacionamento interpessoal e até humanização em relação à política pública e cotidiano dos serviços, considerando o direito à saúde.
Neste contexto, podemos concluir que tal proposta humanizadora pode subsidiar a forma de caminhar no trabalho dos profissionais do SUS, por exemplo, visando resgatar uma visão dinâmica do mundo, de saúde e de homem, tratando este como cidadão.

Referências bibliográficas



TURATO, E. R. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Rev. Saúde Pública [online]. 2005, vol.39, n.3, pp. 507-514.

DRIESSNACK, M.; SOUSA, V. D.; MENDES, I. A. C. Revisão dos desenhos de pesquisa relevantes para enfermagem: part 2: desenhos de pesquisa qualitativa. Rev Lat-Am Enfermagem. 2007, vol. 15, n. 4, 5 pg.

2 comentários:

  1. A pesquisa qualitativa exige do pesquisador um olhar clínico, a observação passa a ser seu principal mecanismo de trabalho, mesmo na utilização da entrevista como metodologia, o processo de observação se faz muito importante, por meio dela ficarão registradas expressões, agustias, emoções que ao retomar as entrevistas e trechos não se é possível reproduzir.
    Acredito que mesmo parecendo uma contradição é importante que o pesquisador tenha em alguns momentos o olhar do Romeu, para entender o contexto, o cenário, o todo de forma geral, envolvendo-se e fazendo parte dele e em outras situações se faz necessário que o pesquisador tenha o olhar do falcão para transpor uma imensidão de informações para focar em peculiaridades e aspectos específicos de uma pessoa que talvez seja a diferença no entendimento de sua relação com o todo. (Michele Santos)

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