As discussões sobre
a Promoção em Saúde pautam temas como a necessidade de fortalecimento da
autonomia dos sujeitos, a ideia do empowerment – que consiste em que o
indivíduo perceba suas necessidades e, a partir delas, modifique o ambiente de
modo a criar espaços para o exercício de sua autonomia -, bem como apontam para
uma educação de caráter dialógico, visando à conscientização dos sujeitos.
Considerando o
exposto, é de se esperar que as pesquisas quantitativas realizadas no campo da
Promoção em Saúde não deem conta de expressar em números todos os dados que
emanam desses processos, uma vez que muitos deles não são passíveis de
mensuração e quantificação. Não podemos, por exemplo, dizer que a autonomia de
alguém aumentou 50% após uma intervenção, ou que 50% de um grupo de indivíduos
passaram a realizar suas ações de forma “mais consciente”.
Nesse contexto é que
se faz necessária a pesquisa qualitativa, a qual vai olhar para os fatores/questões
que interferem na subjetividade dos sujeitos e que a pesquisa quantitativa não
é capaz de apreender.
Ao contrário da
pesquisa básica, a pesquisa qualitativa não analisa questões pontuais (olho do
falcão), mas adota uma postura que considera o contexto como mais importante
(olhar do Romeu), tornando-se o pesquisador, inclusive, parte dele. Tanto assim
o é, que o desenho que orienta uma pesquisa qualitativa difere e muito dos
padrões de referência que organizam as pesquisas tradicionais (básica e quantitativa).
Na pesquisa
qualitativa, a questão que norteará o trabalho surge do contexto, ou seja, das
relações entre os indivíduos e das práticas que se observam em determinado
ambiente, enquanto que, no modelo tradicional, a pergunta já vem com o
pesquisador. Em relação ao método, este é escolhido após o surgimento da
questão norteadora e deve ser capaz de respondê-la, ainda que para isso o
pesquisador precise aprender novos métodos, caso aqueles de seu domínio não
sejam adequados para aquela situação.
A validade do método
na pesquisa qualitativa não é algo que se considere imprescindível, já que não
se procura de fato a reprodução dos resultados, posto que um contexto jamais
será igual a outro. “Os pesquisadores qualitativos estudam pessoas em ambientes
naturais e tentam entender ou interpretar os significados que as pessoas
atribuem às suas experiências” (Denzin, 2000 apud Driessnack, 2007).
Humanização das relações pesquisa x participantes
Pressupostos freireanos
estabelecem uma relação dialógica e horizontalizada entre pesquisa e
participantes, possibilitando que a pesquisa possa identificar necessidades dos
participantes e contribuir para a reflexão e construção crítica dos mesmos. Sendo
assim, percebe-se uma humanização na pesquisa qualitativa, na qual visa o
acolhimento, diálogo, visão holística do ser humano, boa assistência e
relacionamento interpessoal e até humanização em relação à política pública e
cotidiano dos serviços, considerando o direito à saúde.
Neste contexto, podemos
concluir que tal proposta humanizadora pode subsidiar a forma de caminhar no
trabalho dos profissionais do SUS, por exemplo, visando resgatar uma visão
dinâmica do mundo, de saúde e de homem, tratando este como cidadão.
Referências bibliográficas
TURATO, E. R. Métodos
qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições, diferenças e seus
objetos de pesquisa. Rev. Saúde Pública [online]. 2005, vol.39, n.3, pp.
507-514.
DRIESSNACK, M.; SOUSA, V. D.;
MENDES, I. A. C. Revisão dos desenhos de pesquisa relevantes para enfermagem:
part 2: desenhos de pesquisa qualitativa. Rev Lat-Am Enfermagem. 2007, vol. 15,
n. 4, 5 pg.
A pesquisa qualitativa exige do pesquisador um olhar clínico, a observação passa a ser seu principal mecanismo de trabalho, mesmo na utilização da entrevista como metodologia, o processo de observação se faz muito importante, por meio dela ficarão registradas expressões, agustias, emoções que ao retomar as entrevistas e trechos não se é possível reproduzir.
ResponderExcluirAcredito que mesmo parecendo uma contradição é importante que o pesquisador tenha em alguns momentos o olhar do Romeu, para entender o contexto, o cenário, o todo de forma geral, envolvendo-se e fazendo parte dele e em outras situações se faz necessário que o pesquisador tenha o olhar do falcão para transpor uma imensidão de informações para focar em peculiaridades e aspectos específicos de uma pessoa que talvez seja a diferença no entendimento de sua relação com o todo. (Michele Santos)
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